Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, as mortes por cancro do pâncreas em Portugal mais do que duplicaram nos últimos 25 anos e as estimativas sugerem que em 2030 este tipo de tumor seja a segunda causa de morte por cancro no nosso país. Que avanços científicos estão a ser produzidos no combate a esta “doença silenciosa” - denominação atribuída pelo facto dos seus sintomas serem ausentes até à fase avançada da doença - e cuja taxa de sobrevida a cinco anos é inferior a 10%? Em conversa com Sónia Melo, formada na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e atualmente investigadora sénior no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), explorámos este tópico, tendo como ponto de partida os estudos desenvolvidos pela sua equipa na área das células estaminais deste tipo de tumor e das vesículas nanométricas, e alargando a conversa a outros fatores de interesse como:
- As mais recentes descobertas na comunicação entre células cancerígenas e o seu potencial no combate à doença;
- O trajecto pessoal e profissional da investigadora, trilhado em múltiplos laboratórios e consagradas instituições, passando pelo Centro Nacional de Investigações Oncológicas (Madrid), Instituto Catalão de Oncologia (Barcelona), Harvard Medical School (Boston) e MD Anderson Cancer Center (Texas);
- A realidade atual e os desafios de trabalhar no sector da pesquisa científica em Portugal;
- A importância da comunicação inter-pares na comunidade científica global;
- As expectativas no progresso de terapêuticas no combate oncológico suportadas em novas tecnologias como o CRISPR;
Cancro do pâncreas: porque é tão difícil de diagnosticar?
Segundo uma publicação no site do Instituto CUF, pelo cirurgião geral Nelson Silva, o pâncreas é um órgão localizado no retroperitoneu - "atrás do estômago". A sua localização relativamente posterior e "escondida" no abdómen é provavelmente responsável pela ausência ou redução de sintomas até fases avançadas da doença. Mais de 50% dos doentes são diagnosticados com doença avançada (estádio IV) já na presença de metástases. As possíveis formas de reverter o diagnóstico tardio e melhorar os resultados dos doentes com cancro do pâncreas será por meio da prevenção (mudança no estilo de vida), maior consciencialização da doença e seus sintomas e rastreio de populações-alvo.
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